quarta-feira, 4 de março de 2009

Apagão intelectual

Ora bem…
Permitam-me que comece este meu texto, precisamente por este “ora bem”.

Terminado que está o Congresso do PS e existindo tanta matéria para analisar e debater, importa encher ganhar bastante fôlego para se conseguir falar de tudo. Se não, vejamos:

Discursos: o primeiro de José Sócrates foi todo contra a esquerda (leia-se Bloco de Esquerda e PCP), piscando o olho ao centro direita e ao eleitorado mais conservador, deixando a ideia de que se a esquerda crescer, Portugal corre o risco de se tornar numa qualquer república comunista por aí existente, isto porque ele sabe que neste momento é a esquerda do PS que está a chave para a obtenção da maioria absoluta; o segundo, foi fraco, incipiente e todo ele um discurso para consumo interno e cujo ponto alto foi a apresentação de Vital Moreira como cabeça de lista às Europeias; o terceiro e ultimo, foi um discurso todo pró-esquerda (a mesma que no primeiro discurso fora criticada) e anti-centro direita, tendo como principais alvos o PSD e o CDS-PP, tendo como linha de ideias a aposta no social, dando a entender que só o PS é poderá ajudar as famílias portugueas a ultrapassar a crise. Ou seja, em três momentos distintos, José Sócrates optou mais uma vez por baralhar a cabeça dos portugueses com discursos antagónicos e assentes em realidades opostas. Contudo manteve uma linha de pensamento comum: nem uma palavra, pensamento ou ideia sobre a crise e qual o rumo que devemos seguir, apenas no ultimo esboçou algumas ideias no campo do social. Em suma, discursos muito frágeis e sinceramente esperava mais.

Quanto aos restantes discursos, tirando os de Vital Moreira e de António Costa, os restantes foram todos de uma insustentável insipiência e falta de conteúdo que faz compreender a ausência de ideias socialistas para Portugal e para os portugueses. Neste capitulo tivemos um congresso inteiro a debater o processo Freeport, a teoria da conspiração anti-PS levada a cabo não se sabe muito bem por quem e a quase masoquista sucessão de elogios a José Sócrates. Sobre esse caso importa dizer algo que o povo diz: onde há fumo, há fogo; por isso vamos ver e esperar.

Candidaturas: a de Vital Moreira como cabeça de lista às europeias é talvez o facto mais importante do congresso, por duas razões: primeira é um candidato vindo do PS mais à esquerda, próximo do PCP e do BE, o que significa que vai poder ser uma voz com capacidade de esvaziamento de argumento político para esse sector; segunda, a sua candidatura representa uma tentativa do PS e de José Sócrates fazer uma aproximação à esquerda, tentando preparar o caminho para uma maioria absoluta e ao mesmo tempo tentando também uma pacificação com Belém, visto que Vital Moreira é um das personalidades que goza de uma particular consideração por parte da Presidência da Republica. Ou seja, esta candidatura é uma típica jogada de xadrez onde se sacrifica um peão para tentar manter vivo o rei. No entanto, esta candidatura tem um senão para o PS, abandona por completo o centro político e ideológico, abrindo assim espaço para as candidaturas do PSD e do CDS, o que dependendo de quem as encabeçar, podemos ter diante de nós momentos bastante interessantes. Vamos ver.

Marketing: neste campo este congresso, a par do do CDS-PP, foram dois momentos de um fantástico recurso de meios audiovisuais apelativos. O do CDS sendo mais monocromático assumiu-se como sendo o primeiro a adoptar por um sistema minimalista em termos de presenças no palco e com uma maior interactividade entre o fundo do congresso e os congressistas, sendo o do PS em termos gerais idêntico, só que baseado em mais cor e tirando partido de uma sala enorme que permitiu a adopção de modificações em função do timming que se vivia no congresso. Presumo no entanto, que o PS não tenha tido problemas em angariar fundos para o seu congresso ao contrário do CDS. Por outro lado, estes dois congressos fizeram subir e muito a barra para próximos congressos do PSD.

Em suma, vivemos um fim-de-semana onde nos foi servido à hora dos telejornais discursos fracos, com pouca importância, num congresso onde reinou os fedivers e as graçolas sobre a ida ou não de Manuel Alegre. Na memória colectiva fica apenas a candidatura de Vital Moreira e o apagão que se seguiu.

Termino com uma ideia: volta Tino (de Rãs)…Tás perdoado…O PS precisa de ti.

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