sábado, 28 de fevereiro de 2009

Perdoa-me???

Congresso do PS ou o “Perdoa-me”???

Após uma época de carnaval onde todos ficamos a saber que há quem se espinhe com um Magalhães ficcionado e peça de uma paródia carnavalesca e que também há quem (ainda) se espinhe com um quadro de Gustave Coubert , eis que somos brindados com um dos momentos mais profundos de marketing politico que este país em crise permanente e à beira mar plantado já viu nos últimos tempo. O Congresso do Partido Socialista.

Após um processo de campanha interna onde o único candidato (e é natural que o fosse) José Sócrates andou a passear pelo país a falar de assuntos tão importantes para o futuro de Portugal como é o caso dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo ou a eutanásia e complementado com as palavras sempre brilhantes do Ministro Augusto Santos Silva (“Eu gosto é de malhar na direita”-frase profundamente assustadora), com as criticas de Manuel Alegre e com as trocas e baldrocas do futuro interminável processo Freeport, eis que chegamos à reunião magna do PS.

E é aqui que a demagogia que reinou durante todo o tempo de campanha atinge o seu pico máximo. Digamos que é a cereja no topo do bolo. Ou seja, temos um congresso onde quem podia discordar de José Sócrates ou foi recambiado para o estrangeiro ou reconverteu-se a tempo de poder ser cabeça de lista num dos três próximos actos eleitorais que nos esperam durante os próximos meses. E a ideia subjacente que trespassa é a de que o PS é um partido tolerante e respeitador das opiniões contrárias.

Mas o grande momento televisivo bem ao estilo do “Perdoa-me” (grande programa) foi o discurso inaugural do Secretário-Geral. Um discurso bem ao estilo da nova-vaga de discursos em estilo Obama e uma demonstração de o PS de hoje é um partido aberto, que foi a credenciação de bloggers como membros da comunicação social. Presumo que Pacheco Pereira não deve ter sido convidado…

Mais. A julgar pelas palavras que foram proferidas ontem, parece que Portugal vai passar incólume a esta crise mundial, e que nós não temos quase meio milhão de desempregados que esperam impacientemente por uma resposta da parte do poder central para os seus problemas. É que convenhamos: por muitas obras públicas que este governo invente, não vai ser por aí que iremos dar uma ocupação de futuro a todas essas mulheres e homens que subitamente se vêem privados de uma ocupação e que vêem os seus rendimentos baixarem brutalmente. É necessário que o mundo empresarial (privado) comece a encontrar soluções de continuidade laboral para que as economias comecem a produzir e é essencial que a banca comece também a dar sinais de estabilidade e de confiança. Só assim é que poderemos começar a sair desta enorme crise.

O problema entre as semelhanças de discurso entre José Sócrates e Obama, no meu ponto de vista, não tem tanto a ver com uma demonstração de confiança e tentar fazer passar uma mensagem de esperança (porque isso em tempos de crise é importante que aconteça), mas o problema principal, é querer dar a entender que Socrates é o Obama português. Isso é mau. Significa falta de originalidade e representa o assumir de uma manifesta incapacidade de actuação.

O que vale a José Sócrates é que a oposição quer à esquerda, quer à direita, também ela vive dias de incerteza e de confusão ideológica e onde o desespero para subir mais uns pontos nas sondagens leva a que diga, pense ou se defenda aquilo que nunca pensaríamos que poderíamos ver a ser dito ou defendido na arena política portuguesa.

Realmente estamos a seguir um caminho sem rumo e onde a clarividência e a capacidade de actuação politica foram substituídas pelo show-off e pela guerra surda das estatísticas e das sondagens. Quem tinha razão à uns anos atrás era o Gonçalo Capitão e a sua teoria da vídeo politica.

Resta-nos uma esperança e essa está em Belém.

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